EM DEFESA DA “PERSPECTIVA INCLUSIVA” DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL DE 2008 (MEC)
O direito de todos à educação é garantido pela Constituição Federal desde 1988. Porém, mesmo depois desse importante marco legal, as escolas brasileiras continuaram por muitos anos fixando modelos ideais de seres humanos e normalizando perfis específicos de alunos, selecionando os “eleitos” para frequentá-las. Ao longo desse tempo, não se modificou a organização do sistema educacional, que definia espaços distintos para alunos com e sem deficiência (escolas comuns e especiais).
Um novo marco conceitual foi necessário para reafirmar o direito previsto na Constituição ao acesso de todos à escola comum. Por isso, em 2008, publicou-se a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI), elaborada ao longo de dois anos e que teve como base os debates promovidos em seminários locais do Ministério da Educação. Os encontros contaram com a presença da sociedade civil, professores, gestores, universidades, famílias e movimentos de pessoas com deficiência. Após ser sistematizado por um Grupo de Trabalho criado pelo MEC especificamente para esse fim (composto por pesquisadores de diversas regiões do país), o texto da Política foi aprovado em seminários nacionais.
Ou seja, a Política atual, que acaba de completar dez anos, é fruto da participação democrática de pessoas que lutam por escolas inclusivas e foi decisiva no enfrentamento da violação dos direitos à educação no Brasil. Inspirada na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), aprovada pela ONU em 2006, a PNEEPEI refuta a compreensão de que a deficiência em si é um fator de desvantagem e a considera como parte das diferenças humanas. Com base nesse pressuposto, depreende-se que a desvantagem decorre da discriminação, da exclusão e da restrição baseada na condição de deficiência, cabendo à sociedade (notadamente às escolas) promover acessibilidade a fim de favorecer a autonomia e a independência das pessoas com deficiência.
Nesses dez anos, a PNEEPEI tem sido fundamental para que os sistemas de ensino alinhem seu entendimento e suas práticas a esses preceitos inclusivos e eliminem não só os espaços que segregam (escolas e classes especiais) como as práticas que discriminam os alunos na sala de aula. Assim, é inadmissível qualquer alteração no texto da PNEEPEI que traga de volta práticas ultrapassadas, discriminatórias e desumanas. A educação brasileira não precisa da descaracterização da “perspectiva inclusiva” na PNEEPEI. Ao contrário, a efetivação de uma Política tão revolucionária para a sociedade requer a união de esforços de todos – alunos, familiares, professores, autoridades de ensino, pesquisadores, profissionais parceiros e instituições especializadas – para que esse importante documento possa continuar orientando os sistemas educacionais, consolidando suas conquistas e ampliando-as para todas as escolas.
Apesar dos desafios e das pressões contrárias, a escola brasileira está provando ser capaz de se reinventar, de se transformar em um espaço justo e inclusivo, que não pode ser desfigurado por alterações no texto da Política de 2008, que eventualmente impliquem inaceitável retrocesso social, como o ocorrido na redação final da Base Nacional Comum Curricular (que propõe práticas escolares excludentes). Tal retrocesso, vedado no ordenamento jurídico, fere não só o direito e a dignidade das pessoas com deficiência, mas também descumpre a legislação brasileira, que garante “sistema educacional inclusivo” (Convenção da ONU, Plano Nacional de Educação e Lei Brasileira de Inclusão, entre outros).
As famílias que vivenciaram e ainda vivenciam a experiência de ter seus filhos (com e sem deficiência) na escola comum são as guardiãs desse processo de evolução da escola brasileira. Preservar a continuidade das políticas de inclusão escolar é um compromisso de toda a sociedade, para que nenhuma criança, desde a mais tenra idade, seja submetida a espaços e a práticas que segregam e discriminam. Juntos somos fortes.
FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE SÍNDROME DE DOWN
ABAF
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional – ABRAPEE
Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas
AMPID
Asociación Chilena Pro Naciones Unidas (ACHNU)
Associação DFDown
Associação Olhar Down
Associação para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo (ABRAÇA)
Associação Síndrome de Down de Piracicaba – Espaço Pipa
Comitê Capixaba da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Comunidad Ecuménica Martin Luther King (Chile)
Conselho Federal de Psicologia
Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência
Conselho Regional de Psicologia de São Paulo
Escola de Gente
Espaço Mosaico
Fórum Nacional Popular de Educação
Fórum Permanente de Educação Infantil do ES
Fundação Síndrome de Down
Instituto Alana
Instituto Life Down
Instituto Simbora Gente
Movimento Amadinhos Down
Movimento Down
Ser Down -Associação Baiana de Síndrome de Down
Adelcirene Silva
Adriana Limaverde
Angela Maria Batista
Arina Martins
Elaine C S Gomes
Élida Cristina da Silva de Lima Santos
Eliz Soares
Fernanda Maria Pessoa di Cavalcanti
Francisco Nuncio Cerignoni
Helena Ribeiro
Iany Arrais
Igma Fatima
Jaquelene Linhares
Jaqueline Sallenave
Joana Correia
José Carlos do Carmo
Júlio César Botelho
Jusselia Bengert Lima
Lailah Vasconcelos de Oliveira Vilela
Liliana Secron Pinto
Lucelia Bezerra
Luciana Leite de Araujo
Luciana Pires
Marcília Rinaldes
Marcia Povoa
Maria Auxiliadora Nica
Marina Júlia Tófoli
Marta Esteves de Almeida Gil
Michele Pereira de Souza da Fonseca
Renata Marcio
Robson de Souza
Samilly Viana
Sandra Lucia Garcia Massud
Sumika Soares de Freitas Hernandez Piloto
Taís Arruti Lyrio Lisboa
Valéria Oliveira
Valéria Vilhena
Vanessa Breia