Estudo feito a partir de 2010 acompanhou 109 crianças e adolescentes com deficiência atendidos pelo Instituto Jô Clemente que frequentaram escolas regulares. Trabalho mostra diferenças no desenvolvimento dos estudantes incluídos em salas comuns e compara com aqueles isolados nas chamadas salas especiais. Instituição é contrária à proposta do governo Bolsonaro de criar centros para educação de crianças e adolescentes com deficiência. “Isso pode ampliar a exclusão e a segregação porque a socialização é fundamental para a aprendizagem e a conquista da autonomia”, diz supervisora.
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